Continuando a série organizando relacionamentos, hoje é o dia do poder.
Assistimos a uma banalização do poder. Cada vez mais pessoas acreditam que possuem o poder.
O poder corrompe.
Entretanto já começaram errado. O entendimento de poder e a forma como ele é usado foram deturpados. Considerando que existe o poder político, econômico, administrativo, aquisitivo, etc, vou restringir os conceitos que pretendo tratar aqui pertinentes aos relacionamentos: poder emocional, poder de barganha e poder espiritual.
Do dicionário Michaelis on line:
poder2 sm (de poder1) 1 Faculdade, possibilidade. 2 Faculdade de impor obediência; autoridade, mando. 3 Império, soberania. 4Posse, jurisdição, domínio, atribuição. 5 Governo de um Estado. 6 Forças militares. 7 Força ou influência. 8 Força física ou moral. 9 Eficácia, efeito, virtude. 10 Meios, recursos. 11 Capacidade de agir ou de produzir um efeito:Poder aquisitivo; poder absorvente; poder adesivo. 12 DirCapacidade de fazer uma coisa. 13 Mandato, procuração. Grande número, grande quantidade; multidão, abundância.
Na infância poderes eram qualidades mágicas dos nossos heróis. Com seus poderes eles faziam coisas incríveis. As meninas super poderosas salvam o mundo diariamente.
A Liga da Justiça representa bem a diversidade das nossas qualidades. Em uma turma sempre há aquele que gosta da cozinha, aquele que toca violão, o que sabe contar piadas, o carinhoso, o intelectual, o nerd, etc. Depois de tanto tempo convivendo com estas características, o ser humano ainda teima em querer ser igual ou em negar o poder do outro. É justamente por que cada um tem seus poderes individuais que a coisa dá tão certo, que as tarefas se tornam extraordinárias, que aquilo que fazemos em conjunto parece espetacular.
Outro exemplo da junção dos talentos são as orquestras. É inacreditável a nossa capacidade de agregar nosso talento e formar algo emocionante. Uma orquestra não possui um instrumento mais importante que o outro. Todos são responsáveis pela composição do som.
Mas os poderes não se resumem à musica, ao intelecto, às qualidades. Como em várias outras situações, a atitude com a qual empregamos estes poderes, a forma como os impomos aos outros é que define se você terá alcance e eficácia. Alguns desenhos animados da minha infância mostravam que quando o poder iria ser usado para o mau, ele não funcionava. Perdia a força.
Na vida real não é necessariamente assim. O poder é usado com más intenções e tem força total.
Nos relacionamentos o poder é simbolizado normalmente pela força - aquele que sempre convence o outro, aquele que decide mais rápido, aquele que impõe sua vontade (à força ou com jeitinho) -, pela prevalência de opinião, pela artimanha.
Em qualquer relacionamento se este poder é utilizado sem equilíbrio e sem critério ele pode levar a tristeza mútua. Sim, porque na verdade não é apenas o subjugado que sofre. Aquele que em tese se sente poderoso também não consegue ser feliz.
Parênteses para explicar que para mim felicidade não significa apenas sentimento de vitória sobre o outro. Mas felicidade pressupõe liberdade. Aquele que se considera poderoso, neste sentido deformado da palavra poder, está refém da atitude subserviente dos outros. Ele depende da reação do outro para se sentir assim. Então ele é eterno escravo do que vem de fora, apesar de aparentemente se sentir feliz.
Como todo remédio se usado em dose errada se torna um veneno, nossas qualidades belas e que tornam o mundo melhor podem ser utilizadas de forma equivocada.
Outra forma de poder que gera problemas nos relacionamentos é o poder de barganha. Quando alguém está em uma posição que lhe confere alguma vantagem e usa disso para conseguir o que quer.
Quando um não quer, dois não fazem. Mas se fizerem, por barganha ou mesmo por chantagem emocional (que é prima irmã da barganha e da carência), não será autêntico, nem verdadeiro. Não será algo que preencherá.
Barganhar/ chantegear via de regra quebra a confiança que havia em relação aquela pessoa. Demonstra que houve uma atitude desleal, desonesta, arrogante. Não há relacionamento que sobreviva a estas rachaduras.
O que mantém um relacionamento, seja ele marital ou de amizade ou mesmo no trabalho, é o encanto que existe em relação ao outro e a complentariedade das virtudes de ambos.
É neste ponto que entram as virtudes necessárias para que o poder seja usado de forma correta: honestidade e humildade.
Ser honesto, muito mais que falar a verdade, é ser capaz de reconhecer o real valor das coisas e das pessoas. É identificar de forma clara o momento e as circunstâncias, reconhecer o papel e a colaboração de cada um. Quando você é honesto percebe exatamente até onde você pode falar sem ferir ou obrigar alguém a fazer o que você quer. Alguém honesto, sabe de onde vieram seus poderes e qual o fim a que eles se destinam, e por isso não consegue ultrapassar a barreira do respeito e consideração.
Humilde é aquele que está tão genuinamente ciente do seu valor que não precisa de reconhecimento, alarde ou honrarias. Também é aquele que não precisa estar no centro das atenções e que consegue colocar outros a frente e torná-los inclusive melhores que ele próprio. No ambiente de trabalho ele normalmente não é o chefe, mas o líder. Alguns chefes também são líderes.
Alguns irão rir e dizer, ok, Madre Tereza se foi.... Para nós reles mortais isso é possível??
Realmente concordo que as pessoas estão preguiçosas em relação a auto-progresso.
Mas você certamente conhece alguém que se esforça sinceramente para ser assim. Existem milhares de pessoas dedicadas a ser tornar melhor. O que elas têm de especial? O que elas fazem diferente?
Empowering - empoderamento - poder espiritual.
De onde vem o poder para colocar em prática, a força de vontade?
Espiritualidade significa intensificar suas virtudes, cultivar seus valores, agir de forma coordenada e coerente com seus valores.
Religião significa reunião de pessoas com uma fé comum e que compartilham valores e práticas semelhantes. Em verdade as religiões são ferramentas para o desenvolvimento da espiritualidade.
Ambos trazem poder. Ambos fazem com que nos reconectemos com aquele nosso âmago positivo e que nos move na direção do preenchimento e da felicidade real.
O cultivo da espiritualidade nos traz de volta a noção de poder. Aquele poder/ força de que sentíamos saudades e que buscavamos de forma cega em reconhecimento, subjugação, barganha e chantagem.
Cultivar a espiritualidade significa buscar em você as atitudes que você quer cultivar, incentivar as companhias positivas (companhia de pensamentos, de palavras, ações, pessoas, locais).
Ai, ai, como é bom poder encerrar um post com esta sensação prazeirosa de que estamos indo na direção certa, cada um no seu ritmo, da sua maneira. Em direção a um horizonte mais colorido de atitudes poderosas e verdadeiras.
Vocês sentem esta paz de espírito? Um calorzinho gostoso no coração, uma esperança de que pode dar certo?
E assim, mais uma vez o dia foi salvo, graças a vocês - meninas e meninos super poderosos!!!!