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terça-feira, 1 de março de 2011

A carência e alguns remédios

Peço perdão a quem esteve esperando desde setembro, mas foi a vida e assim é a vida.
Devo mencionar que apesar de adorar psicologia, não tenho qualquer formação na área. Na verdade sou alguém que gosta de observar, que pensa (até demais às vezes) e que assume suas opiniões sabendo das conseqüências.
Retomando as reflexões a que me propus sobre relacionamentos começarei pela carência. Não porque é o mais importante, mas porque tinha que começar e definitivamente é o que me incomoda neste exato momento.
Do Michaelis on-line a definição na língua portuguesa:

carência ca.rên.cia - sf (lat carentia) 1 Falta do preciso. 2 Necessidade. 3 Privação. 4 Econ Prazo concedido pelo financiador ao financiado, durante o qual a amortização do principal é dispensada. 5 Dir Decurso de um prazo estabelecido para entrada em vigor de um direito e da obrigação correspondente. Antôns (acepção 1): fartura, abundância.

Em se tratando de relacionamentos falamos aqui de falta, necessidade, privação de algo que desejamos (consciente ou inconscientemente). Suas irmãs siamesas são a tristeza e a eterna insatisfação.


Como o objetivo do blog é a praticidade e a simplicidade, e eu mesma não consigo complicar muito, devo dizer que a carência não resolve. Ela atrapalha, complica, torna as coisas "delicadas" e definitivamente desanimadoras.

 As origens da carência que vêm à mente agora são duas: reflexo de lacuna em algum relacionamento essencial ou expectativas excessivas e não comunicadas.

Em que pesem todo o esforço que uma mulher e um homem fazem quando pensam e realizam a tarefa de colocar um filho no mundo e todas as boas intenções e decisões pelo que acreditam ser o melhor para aquela criança, invariavelmente falta algo. Ou mais atenção em relação aos "feitos" (desenhos abstratos, emaranhados de coisas que nada significam para nós e que eles chamam de foguete, castelo, conquistas infantis que para nós são cotidianas...etc), ou mais carinho, ou mais incentivo, ou mais qualquer outra coisa que para a criança era importante e ela não soube comunicar.

Essa lacuna também ocorre depois de mais velhos, mas o motivo é o mesmo, só muda o nome. Adultos têm expectativas não comunicadas, necessidades subestimadas, privações impotas ou auto-impostas. Enfim, em se tratando da atenção e carinho alheio, voltamos a ser crianças e expressamos de forma "bicuda" nossas necessidades não preenchidas.

Tenho me perguntado faz um tempo se nós realmente "crescemos". Porque muitas das nossas reações às situações remetem à visão daquela garotinha vestida com maiô e saia de tule, coque na cabeça e os olhos rasos d'água; ou daquele garoto vestido de superman com as mãos na cintura e um rosto vermelho de contrariedade. Já vi vintões, trintões, quarentões, cinquentões e sessentões nesta situação. Enfim, talvez emocionalmente sempre sejamos desejosos de amor, atenção, carinho e afeto como fomos aos 2, 3, 4, 5 e 6 anos.
 
Voltando à praticidade e objetividade, quando eu sou o carente:
- é provavel que eu (sem notar ou racionalmente) viva cobrando a atenção dos outros;
- é provável que eu dificilmente me sinta amada;
- é provável que eu considere as pessoas frias, egoístas;
- é provável que eu não me sinta valorizado;
- é provável que eu nunca esteja contente com o que os outros têm a oferecer e queira sempre mais.

A situação realmente é triste, angustiante. Claro que existem nuances, como nas cores, entre o super-carente e o pouco carente. Mas provavelmente todos nós tenhamos carências em alguma medida e em alguns setores específicos.



Quando eu identifico que alguém próximo a mim é carente o enfoque é outro. A tristeza e a angústia vêm de saber que talvez você nunca consiga preencher a necessidade do outro e algumas vezes de saber que você não consegue ou não quer preencher. Sim, porque ninguém é perfeito. Ninguém é obrigado a deixar todo mundo satisfeito o tempo todo, e nem consegue

A carência do outro faz você reconhecer sua própria condição de ser em evolução. Aqui também existem nuances: alguns são mais capazes que outros de entender e preencher as necessidade dos outros. Alguns estão mais em condições emocionais, psicológicas e de preenchimento de se doar. Outros não têm nem para si próprios e se doarem se consumirão. Não é fácil reconhecer em que situação estamos. Mas todos temos limitações de energia, de esgotamento, de cansaço, de valores não desenvolvidos, de interesse naquele relacionamento específico.


E aqui é preciso reconhecer algo também: só nos relacionamos porque nos interessamos. Não aquele interesse malicioso, mas interesse real. Seja entre casal, amizade, colegas de trabalho, definitivamente, você só investirá tempo naquilo que realmente lhe interessa. E o relacionamento termina quando o que nos interessa passa a ser menor do que aquilo que nos incomoda. Enquanto o que nos interessa for maior, o relaciomento perdura. É claro que as vezes um relacionamento acaba no dia da TPM, ou do stress profundo, quando o seu organismo está mais susceptível e o que te incomoda é multiplicado pelos seus hormônios. Como disse no início, é a vida. Acontece. Nada novo.

No organograma acima coloquei duas virtudes que acredito auxiliem a amenizar os efeitos da carência. Citei duas que gostaria de esclarecer por quê: auto-estima e diálogo.



Começando novamente pelo eu, que é o que realmente importa e a única mudança possível (esclareço isso mais adiante ou em comentários se necessário), um antídoto é a auto-estima. Ou talvez eu arrisque dizer que eu me sentia carente porque faltava auto-estima (repito, arrisco porque não tenho formação em psicologia e falo o que sinto e que talvez não se aplique a você). Na verdade, estima é sinônimo de apreço, valorização e afeto. E isto era exatamente o que eu-carente buscava nos outros e nos relacionamentos. Por esta razão e nesta lógica é que digo que auto-estima é um remédio. Simples assim!


Auto-estima é gostar de si mesmo, assim mesmo como você é. Da forma como você está agora. Sem condições ou restrições. Sabendo das suas fraquezas, pontos fracos, mancadas, crenças e hábitos. Alguns diriam: e existe alguém que não goste de si? E eu perguntaria: e existe alguém que realmente goste de si, completinho, 100%? É, então...


Cada um de nós tem as suas preferências em relação a si. Existem partes, jeitos e atos que realmente admiramos em nós mesmos. Mas existe sempre algo que gostaríamos de alterar. Faz parte. E a auto-estima é justamente a medida da incomodação e insatisfação que você sente em relação a estes traços "non gratos". Quanto mais isto representar apenas algo a ser alterado e que você acredita que pode, mais auto-estima você terá.
 
Na Organização Brahma Kumaris aprendi que a auto-confiança (acreditar que você pode mudar, confiar em si), o auto-respeito (reconhecer suas qualidades e respeitar as suas limitações) e a auto-valorização (reconhecer o seu valor ) fazem parte da auto-estima. Não adianta dizer que a auto-estima está ok se você não acredita que um dia será melhor. Também não venha me dizer que tudo está certo com a auto-estima se você ridiculariza seus defeitos e limitações, cobra de si mesmo o tempo todo e se culpa depois que acontece.

É nesta medida que falo em gostar de si. Gostar de si a ponto de conviver pacificamente com os pontos negativos enquanto você trabalha neles. Afinal, sua personalidade, seus hábitos e crenças o acompanham sempre, o dia todo. Então passar o dia brigando também não ajuda.

Somente para citar, porque senão vou alongar demais, mas faz parte da auto-estima:
- ter limites, reconhecer seus limites e saber dar limites,
- dedicar tempo a você e ter responsabilidade pelas suas escolhas,
- saber o que quer e saber comunicar isso (próximo assunto)


Encerrando a auto-estima, gostaria de ressaltar a responsabilidade que temos pela nossa própria felicidade. Apesar de tudo o que acontece no mundo, com as pessoas, no meu ambiente de trabalho, em casa, com meus queridos e queridas, etc, o meu estado de espírito e a felicidade dependem dos meus pensamentos. Da qualidade que eles têm. E não dos fatos e acontecimentos. Quem é que pensa? Eu. Quem segura alguém que tenha um pensamento determinado? 

Talvez porque eu mudei de cidade inúmeras vezes na vida eu não tenha tido uma referência única e tenha focado tanto em cuidar de mim. Mas se você viveu sempre no mesmo lugar, talvez você tenha adotado uma referência, uma pessoa que você queria ser igual. Ainda que você tente ser igual a alguém, é você quem pensa e dificilmente você saberá exatamente como aquela pessoa pensa. Então, decida o que quer pensar e pense naquilo que você quer que aconteça. Visualize, faça planos, descubra como fazer isso se tornar real e prático. E também cuide de você, descubra o que te faz feliz e proporcione isso a você sempre. Permita-se ser feliz. Torne-se feliz. 


O segundo remédio, este aplicável tanto se você está carente ou nos relacionamentos com pessoas carentes, é o diálogo.
Como referi, preencher o outro às vezes é inviável, outras é contra a sua vontade ou ainda requer mais do que você tem a oferecer. Comunique isso. Fale. 
Se o outro já sofre sem conseguir falar e você ficar angustiado em silêncio o resultado serão dois avestruzes (conferi no dicionário... hehehe) com a cabeça escondida na terra.
Já adianto que para mim o relacionamento não existe sem diálogo. O nome que eu daria seria convívio ou acomodação ao relaciomento sem diálogo.

E dialogar é algo complexo, mas não complicado. Você tem que dar atenção, mas não é impossível. É como castelo de cartas. Com cuidado ele se sustenta, sem cuidado tudo cai.
Adotei a seguinte prática: explico como se o interlocutor fosse uma criança de 4 anos e não soubesse de nada. Sempre. Se uma criança de 4 anos tem entendimento restrito ao mundo que conhece, eu sempre levo em consideração o que observei ser o mundo da pessoa

Uso como exemplo situações a que ela esta acostumada. Sempre uso exemplos, porque criança tem que visualizar. 

Também procuro começar a frase da seguinte forma: "quando voce age assim, eu me sinto assim". 

Outra frase: "imagine se eu fizesse da forma que você fez, como você se sentiria?"


Mas sempre pergunto. O objetivo das perguntas (ou interrogatório... hehe) é porque eu preciso entender o que o outro realmente queria fazer ou dizer, ou qual a real intenção, ou o resultado que a pessoa esperava.


Algumas coisas que devem ser evitadas custe o que custar:
- acusação
- agressão
- imaginar o porquê o outro fez ou disse


Tudo isso só atrapalha e piora a situação. E alguém que está carente depois disso desmoronaria.
O foco que deve ser mantido é mostrar os seus sentimentos em relação à forma como o outro age. 
O que o outro faz e como ele está é diferente de como ele é de verdade. Então não confunda e ressalte que você gosta da pessoa e que se propôs a dialogar porque ela é importante para você.


Enfim, a carência não faz bem nem a quem sente, nem a quem quer preenchê-la. Invista em si e dê atenção ao diálogo com quem você gosta. Isto é o que podemos fazer enquanto seres em evolução. De resto, preenchimento 100% só Deus e talvez você tendo uma conversa com Ele você descubra algo mais sobre isso. ;-D