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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Poder - honestidade e humildade.


Continuando a série organizando relacionamentos, hoje é o dia do poder.

Assistimos a uma banalização do poder. Cada vez mais pessoas acreditam que possuem o poder. 
O poder corrompe. 

Entretanto já começaram errado. O entendimento de poder e a forma como ele é usado foram deturpados. Considerando que existe o poder político, econômico, administrativo, aquisitivo, etc, vou restringir os conceitos que pretendo tratar aqui pertinentes aos relacionamentos: poder emocional, poder de barganha e poder espiritual.

Do dicionário Michaelis on line:


podersm (de poder1) 1 Faculdade, possibilidade. 2 Faculdade de impor obediência; autoridade, mando. 3 Império, soberania. 4Posse, jurisdição, domínio, atribuição. 5 Governo de um Estado. 6 Forças militares. 7 Força ou influência. 8 Força física ou moral. 9 Eficácia, efeito, virtude. 10 Meios, recursos. 11 Capacidade de agir ou de produzir um efeito:Poder aquisitivo; poder absorvente; poder adesivo. 12 DirCapacidade de fazer uma coisa. 13 Mandato, procuração. Grande número, grande quantidade; multidão, abundância.


Na infância poderes eram qualidades mágicas dos nossos heróis. Com seus poderes eles faziam coisas incríveis. As meninas super poderosas salvam o mundo diariamente. 



A Liga da Justiça representa bem a diversidade das nossas qualidades. Em uma turma sempre há aquele que gosta da cozinha, aquele que toca violão, o que sabe contar piadas, o carinhoso, o intelectual, o nerd,  etc. Depois de tanto tempo convivendo com estas características, o ser humano ainda teima em querer ser igual ou em negar o poder do outro. É justamente por que cada um tem seus poderes individuais que a coisa dá tão certo, que as tarefas se tornam extraordinárias, que aquilo que fazemos em conjunto parece espetacular.

Outro exemplo da junção dos talentos são as orquestras. É inacreditável a nossa capacidade de agregar nosso talento e formar algo emocionante. Uma orquestra não possui um instrumento mais importante que o outro. Todos são responsáveis pela composição do som. 

Mas os poderes não se resumem à musica, ao intelecto, às qualidades. Como em várias outras situações, a atitude com a qual empregamos estes poderes, a forma como os impomos aos outros é que define se você terá alcance e eficácia. Alguns desenhos animados da minha infância mostravam que quando o poder iria ser usado para o mau, ele não funcionava. Perdia a força.

Na vida real não é necessariamente assim. O poder é usado com más intenções e tem força total. 

Nos relacionamentos o poder é simbolizado normalmente pela força - aquele que sempre convence o outro, aquele que decide mais rápido, aquele que impõe sua vontade (à força ou com jeitinho) -, pela prevalência de opinião, pela artimanha.

Em qualquer relacionamento se este poder é utilizado sem equilíbrio e sem critério ele pode levar a tristeza mútua. Sim, porque na verdade não é apenas o subjugado que sofre. Aquele que em tese se sente poderoso também não consegue ser feliz. 

Parênteses para explicar que para mim felicidade não significa apenas sentimento de vitória sobre o outro. Mas felicidade pressupõe liberdade. Aquele que se considera poderoso, neste sentido deformado da palavra poder, está refém da atitude subserviente dos outros. Ele depende da reação do outro para se sentir assim. Então ele é eterno escravo do que vem de fora, apesar de aparentemente se sentir feliz.

Como todo remédio se usado em dose errada se torna um veneno, nossas qualidades belas e que tornam o mundo melhor podem ser utilizadas de forma equivocada. 

Outra forma de poder que gera problemas nos relacionamentos é o poder de barganha. Quando alguém está em uma posição que lhe confere alguma vantagem e usa disso para conseguir o que quer.

Quando um não quer, dois não fazem. Mas se fizerem, por barganha ou mesmo por chantagem emocional (que é prima irmã da barganha e da carência), não será autêntico, nem verdadeiro. Não será algo que preencherá. 

Barganhar/ chantegear via de regra quebra a confiança que havia em relação aquela pessoa. Demonstra que houve uma atitude desleal, desonesta, arrogante. Não há relacionamento que sobreviva a estas rachaduras. 

O que mantém um relacionamento, seja ele marital ou de amizade ou mesmo no trabalho, é o encanto que existe em relação ao outro e a complentariedade das virtudes de ambos.

É neste ponto que entram as virtudes necessárias para que o poder seja usado de forma correta: honestidade e humildade.

Ser honesto, muito mais que falar a verdade, é ser capaz de reconhecer o real valor das coisas e das pessoas. É identificar de forma clara o momento e as circunstâncias, reconhecer o papel e a colaboração de cada um. Quando você é honesto percebe exatamente até onde você pode falar sem ferir ou obrigar alguém a fazer o que você quer. Alguém honesto, sabe de onde vieram seus poderes e qual o fim a que eles se destinam, e por isso não consegue ultrapassar a barreira do respeito e consideração.

Humilde é aquele que está tão genuinamente ciente do seu valor que não precisa de reconhecimento, alarde ou honrarias. Também é aquele que não precisa estar no centro das atenções e que consegue colocar outros a frente e torná-los inclusive melhores que ele próprio. No ambiente de trabalho ele normalmente não é o chefe, mas o líder.  Alguns chefes também são líderes.

Alguns irão rir e dizer, ok, Madre Tereza se foi.... Para nós reles mortais isso é possível?? 
Realmente concordo que as pessoas estão preguiçosas em relação a auto-progresso. 

Mas você certamente conhece alguém que se esforça sinceramente para ser assim. Existem milhares de pessoas dedicadas a ser tornar melhor. O que elas têm de especial? O que elas fazem diferente?

Empowering - empoderamento - poder espiritual.

De onde vem o poder para colocar em prática, a força de vontade?

Espiritualidade significa intensificar suas virtudes, cultivar seus valores, agir de forma coordenada e coerente com seus valores. 

Religião significa reunião de pessoas com uma fé comum e que compartilham valores e práticas semelhantes. Em verdade as religiões são ferramentas para o desenvolvimento da espiritualidade.

Ambos trazem poder. Ambos fazem com que nos reconectemos com aquele nosso âmago positivo e que nos move na direção do preenchimento e da felicidade real.

O cultivo da espiritualidade nos traz de volta a noção de poder. Aquele poder/ força de que sentíamos saudades e que buscavamos de forma cega em reconhecimento, subjugação, barganha e chantagem.

Cultivar a espiritualidade significa buscar em você as atitudes que você quer cultivar, incentivar as companhias positivas (companhia de pensamentos, de palavras, ações, pessoas, locais). 

Ai, ai, como é bom poder encerrar um post com esta sensação prazeirosa de que estamos indo na direção certa, cada um no seu ritmo, da sua maneira. Em direção a um horizonte mais colorido de atitudes poderosas e verdadeiras.

Vocês sentem esta paz de espírito? Um calorzinho gostoso no coração, uma esperança de que pode dar certo?

E assim, mais uma vez o dia foi salvo, graças a vocês - meninas e meninos super poderosos!!!!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Individualismo - cooperação e comprometimento


O individualismo é hoje uma postura disseminada, ainda que muitos o usem por reação, por medo ou por completa falta de noção das coisas. Digo isso sem ironia, pois existem pessoas que realmente não aprenderam e nem percebem a necessidade de reconhecer e valorizar a participação dos outros.

Existem alguns tipos de individualismos escrachados que irei pular, pois são nossos conhecidos: usar pessoas, pisar, desrespeitar de forma clara e inequívoca e por maldade pura.

Gostaria de ressaltar algumas formas menos explicitas de individualismo que as vezes não percebemos porque precisamos preservar nosso espaço também.

Individual significa sozinho, único e solitário. Também uma porção pequena. Talvez aí esteja o cerne: a pequenez. Pequenez esta que faz com que não consigamos repartir, ser gentis, generosos e cooperativos. Alguns agem assim por costume, porque viveram sozinhos ou foram deixados sozinhos. Mas nem sempre filhos únicos são individualistas. Katiane, minha doce madrinha de casamento, é um exemplo claro que como uma filha única pode se tornar alguém generoso e gentil.

Nas horas vagas, normalmente, o individualista não tem companhia. Em tudo na vida, se não há um interesse genuíno dos dois lados ou uma recíproca, não prospera. A não ser que dois individualistas se encontrem. Talvez nenhum deles se sinta desconfortável com isso. Mas acredito que para a maioria dos seres normais esta postura “tô nem aí” incomoda. 

O individualismo incomoda porque todos queremos reconhecimento, valorização, até como sinal de apreço, de afeto. Acredito numa nação de maiores de idade carentes. Você nota isso quando elogia alguém. A reação de alguns é o desmoronar. Uma sensação de que finalmente alguém vai cuidar de mim. Estamos sozinhos, mas não solitários. 

É verdade que algum individualismo é positivo. Mas esta faceta talvez tenha outro nome: auto-respeito. E como respeito faz parte da palavra, não há como dizer então que será algo que ferirá alguém mais.

Existem duas virtudes que acredito que possam curar estas posturas pouco gentis e generosas com os outros: cooperação e comprometimento.

Co-operação é quando você age em conjunto. De dois, de três, de vinte pessoas. Agir junto significa economizar tempo de ambos, ser responsável pela sua parte da tarefa e das consequencias, ser gentil, generoso, afetuoso, respeitoso, doce... As virtudes sempre vem de mãos dadas.

A atitude interna de cooperação desenvolve em você o faro para perceber quem precisa de ajuda e o que você pode fazer. Ela também o torna mais responsável para com as pessoas com quem você divide espaços e tarefas. Faz você perceber a quantas anda a sua disposição e disponibilidade. Enfim, se você não sabe qual virtude você mais precisa desenvolver, pode começar pela cooperação que com certeza você chegará lá. 

Dadi Janki, da Brahma Kumaris, disse em uma aula certa vez que aquele que é cooperativo nunca sentirá falta de alguém para lhe alcançar uma xícara de chá quando estiver doente. E este é o movimento. Quando você ajuda, sempre haverá alguém para ajudá-lo. Ainda que hoje você não precise de ajuda, doe o que você tem e nunca lhe faltará nada. As vezes só ficar em silêncio ao lado de alguém já é a melhor ajuda. Em outras vezes, algo que para você é simples assim, para o outro é uma montanha.

Cooperar fortalece a nossa auto-imagem, nos faz sentir parte, importantes, fortes, úteis

O compromisso é a outra virtude que considero necessária e urgente nesse mundo de individualistas. Uma das características clássicas dos individualistas é ser responsável apenas pela parte fácil e interessante da tarefa. E quando algo dá errado, sobra culpa para todos.




A imagem não é muito vegetariana, mas ilustra bem o que quero dizer aqui. Na área empresarial se usa muito este exemplo. No café da manhã americano, a galinha está envolvida, entretanto o porco está comprometido.

A cooperação pode fazer com que a gente acabe se envolvendo com várias situações. Mas existem algumas relações em que é esperado de nós compromisso. O pobre porco morre para ceder o bacon, ele dá a vida. Já a galinha faz um leve esforço para colocar um ovo.

Apesar de o compromisso ser obrigatório em alguns relacionamentos, ele é desejável sempre. Comprometer-se significa dar tudo de si, entregar-se, responsabilizar-se, assumir junto. 

Compromisso é algo sério. Algo comprometedor é algo em que você está envolvido até o pescoço, que põe você em risco. Veja-se o casamento. Uma coisa é cada um na sua casa, sair juntos, sorrir, divertir, etc. Outra coisa é assumir contas juntos, cuidar de uma casa juntos, colocar uma criança no mundo juntos, estar disponível para outro em todo o seu tempo livre. 

O compromisso não necessariamente é massante, mas ele requer esforço, dedicação, cooperação, cumplicidade, lealdade. Numa amizade também é assim. No trabalho, voluntário ou não, idem. Com a família, idem.

Enfim, continuo acreditando que tudo tem cura e que as pessoas querem ser boas, só não sabem como.
Também adoto a prática de desenvolver a virtude correspondente ao invés de ficar brigando com o defeito. Então, esqueça o individualismo e os individualistas. Pratique cooperação e comprometimento e observe....

Vamos treinar a cooperação? 
Que tal avaliar seu comprometimento?

sábado, 19 de março de 2011

Cobrança e julgamento x respeito e tolerância

Respeito 


Cobrança e Julgamento estão juntos porque os considero igualmente irritantes. São meus calcanhares de Aquiles. Em verdade o que realmente me incomoda é a falta de respeito por trás destas coisas.

Cobrar é a profissão de alguns. Mas normalmente a cobrança ocorre quando a outra pessoa está em débito. Estar em débito significa que você prometeu algo ou alguma coisa e que não entregou a tempo, conforme combinado. E também que provavelmente você já está usufruindo de algo que o outro lhe deu em troca daquilo que você ainda não entregou.

Visualizo duas pessoas que acredito que sejam as únicas de quem eu aceitaria uma cobrança: o chefe e a mãe. O primeiro porque te contratou e te paga para fazer algo específico e então você tem obrigação de corresponder. A segunda porque definitivamente ela pode cobrar o que quiser pois você acabou com a vida social dela, gastou o salário dela por pelo menos uns 18 anos (quando não mais), teve casa, comida e roupa lavada até quando quis, etc. Enfim, estes dois eu reconheço, baixo a cabeça e correspondo.

Agora, em outros relacionamentos não acredito que esteja obrigada a corresponder. Como já falei no post sobre carência, concordo que nos relacionamos por interesse. Isto também quer dizer que temos uma contrapartida a dar em todos os relacionamentos. Pois se estamos interessados em algo, devemos pagar o preço.

Acontece que, na maior parte das vezes, as pessoas não são claras sobre o que esperam de nós. Dificilmente ao conhecer alguém você começa dizendo: “ok, posso ser seu amigo, mas as minhas limitações são estas, espero de você isso, mais isso e aquilo.” Não há o contrato verbal necessário. Nem em um namoro. E algumas poucas vezes há em um casamento. 

Você não comunica o que quer e nem o que espera do outro. Mas passado o tempo e ocorridas as situações você se sente no direito de cobrar explicações, atitudes e gestos do outro. Como assim???

Experimente chegar ao seu novo chefe no final do mês e pedir algo que não fez parte da negociação da vaga. Ele vai rir da sua cara. Ou então mandar você catar coquinhos. Pessoa sem noção de como funcionam as coisas.

Mas na informalidades das relações interpessoais acreditamos piamente que podemos fazer isso. Pode? Poder pode, mas é extremamente desagradável.

Os pensamentos que tenho quando alguém me cobra mais atenção, por exemplo: se a pessoa não me procura, porque eu tenho que procurar ela? Porque eu sou obrigada a ficar elogiando, bajulando e ligando para alguém que não liga e quando liga fica cobrando coisas que não estavam combinadas?

Sinto que houve uma invasão do meu espaço. Estão tolhindo meu direito à escolha. Existem dias em que não tenho vontade de ver ninguém. Em outros quero determinado tipo de companhia.  E às vezes tanto faz a companhia porque estou neutra. 

É egoísta isso? Pense bem sobre isso. Eu cheguei à conclusão de que posso escolher o que quero. Uma vez uma pessoa me disse (e talvez vocês estejam pensando assim também): “mas você fala de relacionamento de uma forma tão fria e racional. Até parece que está lidando com dinheiro.” A resposta que dei a essa pessoa foi: você tem noção de quanto uma mulher gasta para um primeiro encontro? 
No primeiro encontro com meu atual marido gastei com faxina da casa (R$ 60,00), depilação (R$ 120,00), roupa nova (R$ 70,00), manicure e pedicure (R$25,00), desconto de duas horas de trabalho do salário no dia do encontro (R$ 10,00) porque precisava me arrumar..... enfim, o que ele pagou pelo jantar vezes dois ou três. Fora isso, realmente tempo é dinheiro. Como nunca tive poupança, minha maior riqueza é o meu tempo. E finalmente, ainda que nem todos sejam iguais, mulheres gastam muito tempo e pensamentos (e palavras) antes, durante e depois de um encontro. Enfim, eu devo realmente dedicar muito tempo à pessoas que vão provocar esta catástrofe na minha vida e que depois não terão como retribuir? Relacionamentos são investimentos, e talvez os mais caros.

Acredito que sejamos seres livres, então quero crer que posso escolher.

 Julgar - v.t. Decidir um litígio na qualidade de juiz ou árbitro. Pensar, supor: julgou necessário protestar. Avaliar, emitir opinião, formular um juízo: julgar uma pessoa pela aparência. Reputar, considerar: julgo-o bastante competente. V.pr. Ter-se por, considerar-se.

Na verdade o que incomoda e destrói os relacionamentos é a precipitação. Estou convencida de que conhecemos muito pouco sobre os outros. E dificilmente conseguimos entender o que eles pensam e o que tinham em mente. Simplesmente é assim porque temos histórias, experiências, culturas, hábitos e pensamentos totalmente diferentes. Não tem como entender como o outro pensa, porque o pensamento dele no seu hardware não abre, não visualiza, não roda. Você não tem os requisitos para acessar esta informação da forma correta. Entendeu?

Alguns julgam por profissão, mas julgam situações e com base apenas naquilo que há no processo. Somente o que está no processo vale, nada pode ser suposto ou pensado. Não acredito que possamos ser bons julgadores nos nossos relacionamentos. A tentativa que fazemos ao tentar imputar pensamentos e atitudes é na verdade supor. E eu não tenho liberdade de supor, pensar? Claro que tem, mas esteja ciente de que isto não é a verdade do outro. E não queira que o outro aceite suas cobranças com base no julgamento que você fez dele. 

Mas é interessante ver como fazemos como as crianças e tentamos e testamos as pessoas até que elas nos dêem um limite.

Não consigo visualizar uma forma correta de julgar os outros. Na verdade acredito que respeitar começa com deixar o outro ser quem ele é. Permitir que o outro sempre se mostre antes de eu pensar qualquer coisa. E se eu me perdi e acabei pensando algo, sempre pergunto: o que você quis dizer? Você sente que é assim? Afinal o outro tem direito de defesa e de expor o que pensou ou quis dizer antes que você o condene.

Respeito é algo delicado e sensível. Talvez seja o valor maior que qualquer pessoa tenha. Da perspectiva do eu significa identificar seus anseios, suas deficiências e os locais onde você não quer que ninguém toque. O espaço que você quer proteger. Que você escolheu para manter só seu. Da perspectiva dos outros, respeito é dar espaço e confiar. Permitir que o outro seja, deixar que ele se mostre, se apresente e nos surpreenda. E também confiar que apesar de ele não querer que você entre naquele espaço, ele gosta de você, ele respeita a sua opinião, ele quer você por perto. Mas não tão perto.

Reconheço que em um mundo completamente sem limites, onde tudo é acessado por todos e onde as crianças não ouvem “não” e os adultos são predadores, é complicado falar em respeito. Mas e até quando aguentaremos se não dermos atenção ao que realmente importa?

Respeito - s.m. Ato ou ação de respeitar. Sentimento que leva a tratar alguém ou alguma coisa com grande atenção, profunda deferência; consideração, reverência: respeito filial. Obediência, acatamento, submissão: respeito às leis.

Se a cobrança e o julgamento (que deriva da carência) querem uma atenção não concedida, tratar alguém com respeito talvez seja a solução. Dando a devida atenção e reverenciando o espaço do outro talvez você receba a atenção que quer.

Existe um outra palavra que relaciono ao respeito: cuidado, do verbo cuidar. Cada relacionamento é como uma planta, requer cuidados. Se você der água demais, sol demais, pouca água, pouco sol, ela não resistirá. Você tem que dar um pouco e observar o que a planta retribui. Com as pessoas também é necessário dar um pouco e observar. Tudo tem seu tempo. As vezes é tempo de semear, outras de cuidar e por fim de colher. Mas temos que ser pacientes. Cada um dá o que tem e conforme pode. E nem sempre isto coincide com as nossas necessidades. Por isso é bom termos sempre mais de um amigo. :-)

Apesar de ter encontrado somente definições do tipo aguentar e suportar/ sofrer para o verbo tolerar, gostaria de deixar aqui uma visão boa de tolerância. Para mim tolerar é sinônimo de entender. Ou talvez voluntariamente silenciar por amor e cuidado.

Cada um está em um estágio de evolução. Cada um consegue fazer determinado numero de coisas. Cada um tem resistência a algumas coisas e a outras não. Com certeza, cada um faz o seu melhor, ou o que dá conta naquela situação. Nesse sentido, se você é o alvo das cobranças e julgamentos e se a pessoa responsável por isto é alguém importante para você, então entenda que faz parte do cuidado com aquela pessoa silenciar. Mas este silenciar não é sinônimo de engolir. Se a sensação é de que você está engolindo sapos então é porque realmente aquilo ultrapassou o seu limite. Você se sentiu desrespeitado e portanto deve esclarecer ao outro que o limite a que ele pode chegar é um pouco antes do que aconteceu. Novamente tem que haver diálogo e comunicação das necessidades, limites e expectativas. Se você quer que alguém preencha suas expectativas assegure-se de que a outra pessoa foi informada sobre isso. Senão a frustração é garantida.

Resumindo para finalizar:
- Se você cobra, e não é mãe ou chefe, esteja certo de que o outro está incomodado.
- Se você julga, você realmente perdeu a noção das coisas.
- Respeito é dar espaço e permitir que o outro seja o que ele realmente é.
- Tolerância é entender e querer cuidar.

Adoro a seguinte frase: “julgue a si mesmo e advogue em favor dos outros” BapDada

Ter uma plantinha é maravilhoso para aprender a cuidar. E também ajuda a manter a atmosfera mais limpa e casa mais colorida!!! Plante, em todos os sentidos!

terça-feira, 1 de março de 2011

A carência e alguns remédios

Peço perdão a quem esteve esperando desde setembro, mas foi a vida e assim é a vida.
Devo mencionar que apesar de adorar psicologia, não tenho qualquer formação na área. Na verdade sou alguém que gosta de observar, que pensa (até demais às vezes) e que assume suas opiniões sabendo das conseqüências.
Retomando as reflexões a que me propus sobre relacionamentos começarei pela carência. Não porque é o mais importante, mas porque tinha que começar e definitivamente é o que me incomoda neste exato momento.
Do Michaelis on-line a definição na língua portuguesa:

carência ca.rên.cia - sf (lat carentia) 1 Falta do preciso. 2 Necessidade. 3 Privação. 4 Econ Prazo concedido pelo financiador ao financiado, durante o qual a amortização do principal é dispensada. 5 Dir Decurso de um prazo estabelecido para entrada em vigor de um direito e da obrigação correspondente. Antôns (acepção 1): fartura, abundância.

Em se tratando de relacionamentos falamos aqui de falta, necessidade, privação de algo que desejamos (consciente ou inconscientemente). Suas irmãs siamesas são a tristeza e a eterna insatisfação.


Como o objetivo do blog é a praticidade e a simplicidade, e eu mesma não consigo complicar muito, devo dizer que a carência não resolve. Ela atrapalha, complica, torna as coisas "delicadas" e definitivamente desanimadoras.

 As origens da carência que vêm à mente agora são duas: reflexo de lacuna em algum relacionamento essencial ou expectativas excessivas e não comunicadas.

Em que pesem todo o esforço que uma mulher e um homem fazem quando pensam e realizam a tarefa de colocar um filho no mundo e todas as boas intenções e decisões pelo que acreditam ser o melhor para aquela criança, invariavelmente falta algo. Ou mais atenção em relação aos "feitos" (desenhos abstratos, emaranhados de coisas que nada significam para nós e que eles chamam de foguete, castelo, conquistas infantis que para nós são cotidianas...etc), ou mais carinho, ou mais incentivo, ou mais qualquer outra coisa que para a criança era importante e ela não soube comunicar.

Essa lacuna também ocorre depois de mais velhos, mas o motivo é o mesmo, só muda o nome. Adultos têm expectativas não comunicadas, necessidades subestimadas, privações impotas ou auto-impostas. Enfim, em se tratando da atenção e carinho alheio, voltamos a ser crianças e expressamos de forma "bicuda" nossas necessidades não preenchidas.

Tenho me perguntado faz um tempo se nós realmente "crescemos". Porque muitas das nossas reações às situações remetem à visão daquela garotinha vestida com maiô e saia de tule, coque na cabeça e os olhos rasos d'água; ou daquele garoto vestido de superman com as mãos na cintura e um rosto vermelho de contrariedade. Já vi vintões, trintões, quarentões, cinquentões e sessentões nesta situação. Enfim, talvez emocionalmente sempre sejamos desejosos de amor, atenção, carinho e afeto como fomos aos 2, 3, 4, 5 e 6 anos.
 
Voltando à praticidade e objetividade, quando eu sou o carente:
- é provavel que eu (sem notar ou racionalmente) viva cobrando a atenção dos outros;
- é provável que eu dificilmente me sinta amada;
- é provável que eu considere as pessoas frias, egoístas;
- é provável que eu não me sinta valorizado;
- é provável que eu nunca esteja contente com o que os outros têm a oferecer e queira sempre mais.

A situação realmente é triste, angustiante. Claro que existem nuances, como nas cores, entre o super-carente e o pouco carente. Mas provavelmente todos nós tenhamos carências em alguma medida e em alguns setores específicos.



Quando eu identifico que alguém próximo a mim é carente o enfoque é outro. A tristeza e a angústia vêm de saber que talvez você nunca consiga preencher a necessidade do outro e algumas vezes de saber que você não consegue ou não quer preencher. Sim, porque ninguém é perfeito. Ninguém é obrigado a deixar todo mundo satisfeito o tempo todo, e nem consegue

A carência do outro faz você reconhecer sua própria condição de ser em evolução. Aqui também existem nuances: alguns são mais capazes que outros de entender e preencher as necessidade dos outros. Alguns estão mais em condições emocionais, psicológicas e de preenchimento de se doar. Outros não têm nem para si próprios e se doarem se consumirão. Não é fácil reconhecer em que situação estamos. Mas todos temos limitações de energia, de esgotamento, de cansaço, de valores não desenvolvidos, de interesse naquele relacionamento específico.


E aqui é preciso reconhecer algo também: só nos relacionamos porque nos interessamos. Não aquele interesse malicioso, mas interesse real. Seja entre casal, amizade, colegas de trabalho, definitivamente, você só investirá tempo naquilo que realmente lhe interessa. E o relacionamento termina quando o que nos interessa passa a ser menor do que aquilo que nos incomoda. Enquanto o que nos interessa for maior, o relaciomento perdura. É claro que as vezes um relacionamento acaba no dia da TPM, ou do stress profundo, quando o seu organismo está mais susceptível e o que te incomoda é multiplicado pelos seus hormônios. Como disse no início, é a vida. Acontece. Nada novo.

No organograma acima coloquei duas virtudes que acredito auxiliem a amenizar os efeitos da carência. Citei duas que gostaria de esclarecer por quê: auto-estima e diálogo.



Começando novamente pelo eu, que é o que realmente importa e a única mudança possível (esclareço isso mais adiante ou em comentários se necessário), um antídoto é a auto-estima. Ou talvez eu arrisque dizer que eu me sentia carente porque faltava auto-estima (repito, arrisco porque não tenho formação em psicologia e falo o que sinto e que talvez não se aplique a você). Na verdade, estima é sinônimo de apreço, valorização e afeto. E isto era exatamente o que eu-carente buscava nos outros e nos relacionamentos. Por esta razão e nesta lógica é que digo que auto-estima é um remédio. Simples assim!


Auto-estima é gostar de si mesmo, assim mesmo como você é. Da forma como você está agora. Sem condições ou restrições. Sabendo das suas fraquezas, pontos fracos, mancadas, crenças e hábitos. Alguns diriam: e existe alguém que não goste de si? E eu perguntaria: e existe alguém que realmente goste de si, completinho, 100%? É, então...


Cada um de nós tem as suas preferências em relação a si. Existem partes, jeitos e atos que realmente admiramos em nós mesmos. Mas existe sempre algo que gostaríamos de alterar. Faz parte. E a auto-estima é justamente a medida da incomodação e insatisfação que você sente em relação a estes traços "non gratos". Quanto mais isto representar apenas algo a ser alterado e que você acredita que pode, mais auto-estima você terá.
 
Na Organização Brahma Kumaris aprendi que a auto-confiança (acreditar que você pode mudar, confiar em si), o auto-respeito (reconhecer suas qualidades e respeitar as suas limitações) e a auto-valorização (reconhecer o seu valor ) fazem parte da auto-estima. Não adianta dizer que a auto-estima está ok se você não acredita que um dia será melhor. Também não venha me dizer que tudo está certo com a auto-estima se você ridiculariza seus defeitos e limitações, cobra de si mesmo o tempo todo e se culpa depois que acontece.

É nesta medida que falo em gostar de si. Gostar de si a ponto de conviver pacificamente com os pontos negativos enquanto você trabalha neles. Afinal, sua personalidade, seus hábitos e crenças o acompanham sempre, o dia todo. Então passar o dia brigando também não ajuda.

Somente para citar, porque senão vou alongar demais, mas faz parte da auto-estima:
- ter limites, reconhecer seus limites e saber dar limites,
- dedicar tempo a você e ter responsabilidade pelas suas escolhas,
- saber o que quer e saber comunicar isso (próximo assunto)


Encerrando a auto-estima, gostaria de ressaltar a responsabilidade que temos pela nossa própria felicidade. Apesar de tudo o que acontece no mundo, com as pessoas, no meu ambiente de trabalho, em casa, com meus queridos e queridas, etc, o meu estado de espírito e a felicidade dependem dos meus pensamentos. Da qualidade que eles têm. E não dos fatos e acontecimentos. Quem é que pensa? Eu. Quem segura alguém que tenha um pensamento determinado? 

Talvez porque eu mudei de cidade inúmeras vezes na vida eu não tenha tido uma referência única e tenha focado tanto em cuidar de mim. Mas se você viveu sempre no mesmo lugar, talvez você tenha adotado uma referência, uma pessoa que você queria ser igual. Ainda que você tente ser igual a alguém, é você quem pensa e dificilmente você saberá exatamente como aquela pessoa pensa. Então, decida o que quer pensar e pense naquilo que você quer que aconteça. Visualize, faça planos, descubra como fazer isso se tornar real e prático. E também cuide de você, descubra o que te faz feliz e proporcione isso a você sempre. Permita-se ser feliz. Torne-se feliz. 


O segundo remédio, este aplicável tanto se você está carente ou nos relacionamentos com pessoas carentes, é o diálogo.
Como referi, preencher o outro às vezes é inviável, outras é contra a sua vontade ou ainda requer mais do que você tem a oferecer. Comunique isso. Fale. 
Se o outro já sofre sem conseguir falar e você ficar angustiado em silêncio o resultado serão dois avestruzes (conferi no dicionário... hehehe) com a cabeça escondida na terra.
Já adianto que para mim o relacionamento não existe sem diálogo. O nome que eu daria seria convívio ou acomodação ao relaciomento sem diálogo.

E dialogar é algo complexo, mas não complicado. Você tem que dar atenção, mas não é impossível. É como castelo de cartas. Com cuidado ele se sustenta, sem cuidado tudo cai.
Adotei a seguinte prática: explico como se o interlocutor fosse uma criança de 4 anos e não soubesse de nada. Sempre. Se uma criança de 4 anos tem entendimento restrito ao mundo que conhece, eu sempre levo em consideração o que observei ser o mundo da pessoa

Uso como exemplo situações a que ela esta acostumada. Sempre uso exemplos, porque criança tem que visualizar. 

Também procuro começar a frase da seguinte forma: "quando voce age assim, eu me sinto assim". 

Outra frase: "imagine se eu fizesse da forma que você fez, como você se sentiria?"


Mas sempre pergunto. O objetivo das perguntas (ou interrogatório... hehe) é porque eu preciso entender o que o outro realmente queria fazer ou dizer, ou qual a real intenção, ou o resultado que a pessoa esperava.


Algumas coisas que devem ser evitadas custe o que custar:
- acusação
- agressão
- imaginar o porquê o outro fez ou disse


Tudo isso só atrapalha e piora a situação. E alguém que está carente depois disso desmoronaria.
O foco que deve ser mantido é mostrar os seus sentimentos em relação à forma como o outro age. 
O que o outro faz e como ele está é diferente de como ele é de verdade. Então não confunda e ressalte que você gosta da pessoa e que se propôs a dialogar porque ela é importante para você.


Enfim, a carência não faz bem nem a quem sente, nem a quem quer preenchê-la. Invista em si e dê atenção ao diálogo com quem você gosta. Isto é o que podemos fazer enquanto seres em evolução. De resto, preenchimento 100% só Deus e talvez você tendo uma conversa com Ele você descubra algo mais sobre isso. ;-D